Hatianos no Brasil

 

Por Pierre Michel Jean
Tradução Raphael Daibert

 

_mj_4778
“Em outras regiões do Caribe, é como se a comunidade haitiana tivesse um sentimento de constante trânsito, sem nunca chegar a um destino, seja Nova York ou Miami”. É assim que o sociólogo haitiano Laennec Hurbon descreveu já em 1987 no seu livro “Compreender o Haiti” a situação dos imigrantes haitianos no Caribe. Os impactos da ocupação do Haiti pelas forças estadunidenses são tamanhos que o haitiano dificilmente concebe sua felicidade em outro lugar que não os Estados Unidos. As sucessivas crises políticas pelas quais o Haiti já passou depois dos anos 1986 não ajudou para que houvesse uma mudança de percepções. Em 2009, uma declaração do Banco Mundial estimou que é por volta de 1 milhão o número de haitianos que vivem no exterior. A metade desta população de migrantes vive nos Estados Unidos. Em 2014, esta diáspora contribuiu com o envio de mais de 1.923 bilhões de dólares de transferências ao Haiti. Consiste em 20% do PIB do Haiti na época.

_mj_4826Após o terremoto que ocorreu em janeiro de 2010, muitos haitianos quiseram evitar a crise humanitária que tinha apenas começado. Entre a ajuda humanitária internacional que não passou de uma promessa e o governo haitiano assolado pela crise, a emigração pareceu ser uma questão. República Dominicana, Bahamas, Canadá, Estados Unidos, todos esses países viram crescer consideravelmente o número de imigrantes haitianos e seu território em 2010. Um ano depois, um itinerário improvável desde a República Dominicana e a Cordilheira dos Andes abriu-se o caminho para o Brasil. A sexta maior economia mundial da época, um eldorado em plena expansão com diversas opções de trabalho nos quais poderiam se encaixar os haitianos. Cinco anos mais tarde, já são mais de 70.000 haitianos que chegaram ao país do samba.

 

 


 

Raphael Daibert é pesquisador e produtor cultural. Formado em Relações Internacionais pela PUC-SP é um dos membros-fundadores de Lanchonete.org. Coordenador de programação do projeto Zona da Mata e co-curador do programa Cidade Queer.